O existencialismo
ateu que eu represento é mais coerente. Ele declara que, se Deus não existe, há
pelo menos um ser em quem a existência
precede a essência, um ser
que existe antes de poder ser definido por algum conceito, e que este ser é o homem, ou, como diz Heidegger, a realidade humana. Que
significa dizer que a existência precede a essência? Significa que o homem
primeiro existe, se encontra, surge no mundo, e que se define depois. O homem,
tal como o existencialista o concebe, se não é definível, é porque de início ele não é nada. Ele só será em seguida, e será como se tiver feito.
Assim, não há natureza humana,
pois não há Deus para
concebê-la. O homem é não apenas tal como ele se concebe, mas como ele se quer,
e como ele se concebe depois da existência, como ele se quer depois desse
impulso para a existência, o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo. Tal é o
primeiro princípio do existencialismo. [...] Pois nós queremos dizer que o
homem primeiro existe, isto é, que ele é de início aquele que se lança para um porvir, e que é consciente de se
lançar no porvir. O homem é de início um projeto
que se vive subjetivamente, ao invés de ser um musgo, uma podridão, um
couve-flor; nada existe antes desse projeto; nada está no céu inteligível, e o
homem será aquilo que ele tiver projetado ser. [...] Assim, o primeiro passo do
existencialismo é colocar todo homem de posse daquilo que ele é e fazer cair
sobre ele a responsabilidade
total por sua existência. E, quando nós dizemos que o homem é responsável por
si mesmo, não queremos dizer que o homem é responsável por sua estrita individualidade, mas que ele é
responsável por todos os homens. [...] Quando afirmamos que o homem se escolhe
a si mesmo, entendemos que cada um de nós se escolhe, mas queremos dizer também
que, escolhendo-se, ele escolhe todos os homens.
Assim, nossa responsabilidade é muito maior do
que poderíamos supor, pois ela engaja a humanidade
inteira. Se eu sou um operário e se escolho aderir a um sindicato
cristão ao invés de ser comunista, se, por esta adesão, eu quero indicar que a
resignação é no fundo a solução que convém ao homem, que o reino do homem não é
sobre a terra, eu não estou engajando apenas a mim mesmo: eu quero ser
resignado por todos, por consequência minha decisão engaja toda a humanidade. E
se eu quiser, fato mais individual ainda, casar-me, ter filhos, ainda que esse
casamento dependa unicamente de minha situação, ou de minha paixão, ou de meu
desejo, com ele eu engajo não apenas a mim mesmo, mas toda a humanidade no
caminho da monogamia. Assim, eu sou responsável por mim mesmo e por todos, e eu
crio uma certa imagem do homem que eu escolhi; escolhendo-me, eu escolho o
homem. (SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: ANTOLOGIA de textos filosóficos.
SEED/PR).
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Para os existencialistas,
como Sartre, a existência precede a essência, tanto em relação ao indivíduo ou
à realidade, como em relação ao conhecimento, ou seja, o homem primeiro existe
no mundo e depois se realiza, se define por suas ações e pelo que faz com a sua
vida. Ele é condenado a se fazer homem, através das suas decisões. As ideias,
ou as essências não são anteriores às coisas, pois não estão contidas na
inteligência de Deus ou do homem.
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